Sergipe busca conhecimento em biotecnologia no Paraná

O propósito foi conhecer sobre a conversão de dejetos de animais e resíduos de feiras em energia e biometano

Com o objetivo de conhecer tecnologias para a produção de energia e gás renováveis em Sergipe, o diretor-presidente da Sergipe Gás (Sergas), José Matos, e o diretor-presidente do Sergipe Tec, José Augusto Carvalho, visitaram a Central de Bioenergia de Toledo, cidade localizada a oeste do estado do Paraná. Os diretores conheceram uma unidade de negócios implantada e operada pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), que produz energia elétrica através de biogás oriundo de dejetos suínos.

A unidade visitada possui um arranjo coletivo que integra 16 produtores parceiros de suínos, 35 mil suínos (em fase de terminação), que disponibilizam 10 mil m³/mês de dejetos e 87 toneladas/mês de carcaças, gerando 324 MWh/mês de energia elétrica e cerca de 10 mil m³/mês de biofertilizantes. O biogás produzido é convertido em energia elétrica utilizando moto-geradores e é suficiente para manter a operação dos geradores de energia por 24 horas/dia. A unidade também tem a perspectiva de coletar carcaças de animais mortos para serem tratadas adequadamente e servirem como insumo.

Negócio sustentável
A geração de energia obtida é equivalente ao consumo médio de 1.500 casas de padrão médio. José Matos e José Augusto conheceram o processo de produção, acompanhados pelo engenheiro eletricista do CIBiogás, Luiz Palma, que apresentou a planta e explicou informações técnicas sobre a operação, participação dos produtores e o meio ambiente.

Segundo Luiz Palma, a unidade já está em tratativas para começar a produzir biometano em um futuro próximo, pois o valor da molécula desse gás está mais atrativo no mercado. A destinação sustentável dos dejetos ou animais mortos beneficia o produtor rural parceiro. “Ele pode ampliar seu negócio sem ampliar os sistemas de tratamento necessários e se beneficiar com uma redução significativa, de até 75% do efluente do biodigestor (digestato)”, destacou Luiz.

Processo de produção
Os resíduos chegam à Central e são conduzidos a um sistema de biodigestão, com três reatores de diferentes tecnologias. O primeiro reator opera como um Tanque com Agitação Contínua (CSTR), proporcionando uma mistura completa. Os demais são conhecidos como lagoas otimizadas. Os reatores possuem aquecimento, agitação e dessulfurização biológica. A dessulfurização é essencial para a valorização energética do biogás, pois protege os motores de cogeração da ação corrosiva do ácido sulfídrico. A produtividade de biogás nos reatores é de 6.291 Nm³/h (Normal Metro Cúbico por Hora).

Outra visita técnica importante foi na fazenda de propriedade do agropecuarista Fábio José Padovani, localizada no município de Cascavel (PR). A propriedade trabalha com gado da raça Angus em regime de confinamento aberto e fechado. Atualmente, a fazenda está trabalhando com cerca de 1.300 cabeças/ano e tem o projeto de aumentar a produtividade para 3.000 cabeças de gado a partir de 2024. As novilhas são submetidas a exames e, quando constatada a capacidade de reprodução, são separadas e inseminadas apenas uma vez antes da fase de terminação. O excelente padrão de qualidade da carne é um fator diferenciado no mercado. O gado em confinamento aberto produz cerca de 25 kg/dia de dejetos, enquanto o confinamento fechado produz cerca de 20 kg/dia.

Toda essa gama de resíduos bovinos produzidos, juntamente com o aproveitamento de carcaças de animais, aliados à tecnologia de biodigestores, fazem com que a fazenda produza cerca de 500 m³/dia de biogás e, se necessário, também cerca de 250 m³/dia de biometano.

De acordo com o proprietário Fábio Padovani, o conceito da propriedade é de agropecuária regenerativa para a produção de alimentos para a agropecuária, produzidos na própria fazenda. “O exemplo é uma mudança na dieta animal à base de milho, sorgo e soja, alimentos que são fonte de energia e que aumentam cada vez mais a produção, pois, do ponto de vista nutricional, são uma proteína bypass de degradação intestinal e não degradação ruminal”, explicou.

O engenheiro ambiental Leandro Tonin, que presta assessoria na produção de gás da fazenda, detalha o projeto, onde o resíduo líquido, na separação, vai para o biodigestor para a produção de biogás, e o sólido vai para a compostagem, gerando energia e autosuficiência, além de adubos biológicos para a propriedade, tornando-a mais independente do mercado.

“O modelo utilizado na Central de Bioenergia de Toledo demonstra que é possível aproveitar, de uma nova maneira, os dejetos de propriedades rurais em uma unidade centralizada, que opera um negócio tecnológico e sustentável financeiramente, gerando como resultado a produção de energia elétrica. Caso queiram e se for necessário, podem também produzir o biometano através de pequenas alterações em equipamentos com filtros específicos”, frisou o presidente da Sergas, José Matos.

Sobre a fazenda do agropecuarista Fábio Padovani, Matos declara que é um exemplo da convivência harmônica entre o capital e o meio ambiente. “Todas as ações desenvolvidas na propriedade têm retorno exponencial com aumento da produtividade, deixando a fazenda no caminho da auto sustentabilidade”, finalizou Matos.

Para o presidente do SergipeTec, José Augusto Carvalho, as visitas técnicas proporcionaram conhecer “um projeto de grande valor tecnológico, que tem o seu caráter inovador e que atende as necessidades da produção de energia e destinação dos dejetos de forma correta, livrando o meio ambiente de resíduos poluentes”.

Ele ressaltou ainda que a fazenda do pecuarista Fábio Padovani é um verdadeiro exemplo de que a convivência entre a produção, o progresso e o meio ambiente podem conviver de forma harmônica e produtiva. “A produção de carne bovina de primeira qualidade, a geração de energia, a produção de material orgânico para a compostagem retornando a plantação e ao meio ambiente de forma biológica, fecha um circulo virtuoso”, concluiu José Augusto.

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